Como garantir não somente a presença de mulheres em espaços públicos de poder, mas, também, a igualdade de ascensão e cargos em relação aos homens? Esta foi a pergunta que norteou o webinário ‘Mulheres em Espaço de Poder: Avanços e Desafios’, promovido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba na noite dessa segunda-feira (31). O evento contou com a presença de mulheres ocupantes de cargos do Judiciário estadual, Ministério Público da Paraíba, Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraíba (OAB-PB) e Poderes Executivo e Legislativo.

Transmitido pela plataforma Cisco Webex e pelo canal do TJPB no YouTube, o evento, que discutiu a temática por mais de duas horas, teve como mediadora a desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti. A juíza-corregedora, Silmary Alves, foi uma das organizadoras do evento. Durante a abertura do webinário, a desembargadora enfatizou a importância da solidariedade entre as mulheres e como, ao se tornar líder em uma instituição, a mulher acaba trazendo para si a responsabilidade de incentivar outras colegas a lutar pela igualdade.

“A mulher de hoje se pergunta: conquistei meu espaço profissional? Sou apenas a base da pirâmide ou estou no topo? Existe a igualdade de gênero como está apregoada na Constituição Federal? Então, é importante as mulheres se ajudarem umas às outras como companheiras na conquista de poder e respeito, para trabalharmos em pé de igualdade”, frisou a mediadora.

A juíza Graziela Queiroga, coordenadora da Mulher em Situação de Violência do TJPB, fez uma retrospectiva de importantes conquistas das mulheres brasileiras ao longo do último século, destacando o quanto ainda é preciso avançar em termos de direitos das mulheres. “Conquistamos o direito a trabalhar fora e sermos chefes de família, o que é um avanço, mas ainda são necessárias leis que digam que os homens não devem nos agredir física e emocionalmente, bem como uma penalidade mais dura para o feminicídio ou uma lei que diga que a importunação sexual não é uma mera perturbação. Precisamos ir à luta sempre e, se estamos discutindo este tema, é graças a mulheres que nos precederam e permitiram estarmos aqui hoje”, salientou.

A senadora Daniella Ribeiro, ao participar do webinário, destacou a importância da sororidade, solidariedade e ousadia entre as mulheres para a conquista de, cada vez mais, paridade nos espaços de poder. “Precisamos, também, da parceria dos homens para abraçar a causa e ajudar neste desafio. Eles precisam discutir com as mulheres estas questões. A ousadia é algo que, para mim, é ponto de partida, que nos trouxe até aqui e que é fundamental para o nosso crescimento. Além disso, as mulheres precisam ser solidárias entre si para garantir a permanência nos espaços de poder”, afirmou.

Desafios – A secretária de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura, destacou que a trajetória da participação das mulheres em espaços de poder é dura e sofrida, mas que isso não impede ou diminui a vontade de fazer e continuar o trabalho nestes espaços e de busca por maior participação feminina. “Nessa trajetória política, a desqualificação da mulher é corriqueira e as pessoas frequentemente querem dizer como devemos agir. Diariamente, observam nossos cabelos, maquiagens e indumentárias. Para os homens, entrar na política é fácil. Para as mulheres, exigem qualificação extrema”, relatou.

A promotora de Justiça de Defesa da Mulher de Sapé, Caroline Franca Freire, argumentou que o webinário foi bastante oportuno, por ser mais uma forma de conscientizar a população acerca da importância e dos avanços da igualdade de gênero. “À medida que uma rede de sororidade é construída, as mulheres são empoderadas e sentem que são mais fortes e capazes. As mulheres representam 51,8% da população brasileira, mas a desigualdade ainda é imensa. A sociedade estabelece papeis para homens e mulheres, fruto de uma construção cultural que diz que a mulher deve ocupar cargo com pouco poder de decisão e de menor prestígio no mercado. Dessa forma, os cargos de poder ainda são majoritariamente ocupados por homens, mas, acreditamos que, com efetiva participação política e decisória das mulheres, conseguiremos transformar a estrutura das instituições, seja pública ou privada”, analisou.

De acordo com a vice-presidente da Comissão de Combate à Violência e à Impunidade contra a Mulher da OAB, advogada Janayna Nunes Pereira, as dificuldades também permeiam a carreira para mulheres na advocacia. “A base de tudo é a sociedade patriarcal que tem, enraizada, a cultura machista, sexista e misógina, que permeia, também, as instituições. Por isso, temos esta dificuldade da mulher estar bem representada em espaços de poder. Conseguimos acessar, mas, nas instituições persistem, ainda, a estrutura de poder historicamente masculina. Além de a estrutura patriarcal dificultar a mulher se ver representada nestes ambientes, não estimula a mulher a buscar estes espaços de poder. Precisamos nos reinventar e sermos criativas para traçar trajetórias que deem espaços para que novas mulheres entrem no sistema e sejam protagonistas, podendo fazer, de fato, a diferença”, declarou.

Encerrando o evento, a juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá trouxe dados, apontando que, do total de 248 magistrados no Poder Judiciário estadual, 139 são homens e 109 são mulheres. “Estamos perto de igualar, mas a luta é árdua e os dados mostram o quanto ainda temos para percorrer e conseguir alcançar o nosso espaço. Temos muitos avanços, considerando o que se via no passado, mas ainda temos muitos desafios pela frente. É importante discutir não só com mulheres, pois já sabemos das nossas dificuldades e o que fazer para chegar aonde desejamos, mas discutir, também, com homens e trazê-los a esse espaço, com diálogos e avanço nas nossas pautas. Além disso, todos os segmentos de Justiça precisam fomentar a participação das mulheres em cargos de gestão, comando e poder para que possamos mostrar a nossa capacidade”, reforçou.

Por Celina Modesto / Gecom-TJPB

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