Nesses dois anos de pandemia, o desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, presidente da Comissão de Cultura e Memória do Poder Judiciário do Estado da Paraíba, aumentou sua produção literária. Ele está na presidência da Comissão há dez anos, tendo realizados diversos eventos culturais e lançamentos de livros seus e de autores paraibanos, com temas focados na literatura jurídica. Cavalcanti também é membro da Academia Paraibana de Letras.
“Desde criança que eu gostava de escrever e de fazer redação. Nos anos 1980 comecei a passar minhas pesquisas para o papel, escrever”, disse o magistrado
Em 2018 quando lançou seu primeiro romance ‘A Preta Gertrudes’, obra histórica-jurídica que retrata a batalha judicial da escrava paraibana, durante 14 anos, para evitar que fosse vendida ilegalmente em praça pública, como pagamento de uma dívida, o magistrado já tinha planos de escrever outros romances. Ao todo já são 33 livros fora os que estão no prelo e em final de pesquisa.
Segundo ele, a produção literária tem avançado. “Com o isolamento imposto pela pandemia do coronavírus, aqui na praia de Areia Dourada, me dediquei à reflexão, meditação e contemplação da natureza olhando este mar lindo que banha as nossas praias. Assim escrevo muito e agora ingressei fundo na literatura brasileira propriamente dita”, revelou.
Já tem pronto para lançamentos alguns títulos, ainda sem data prevista.
A novidade é sua primeira novela, “A Botija – Tristão e Angélica”, que o autor está terminando a correção gramatical e ortográfica e em setembro irá para a editora.
Os romances “Gurguri” e “Monte-Mor”, já estão prontos e serão lançados no ano vindouro. E ainda tem um livro de contos intitulado “Contos, Lendas e Mitos”, que já está na editora.
“O romance Gurguri, tem o nome de uma fazenda do meu pai onde eu fui criado, em Mamanguape. É uma autobiografia romanceada narrando minha terra no século XX, como fez o grande romancista Carlos Dias Fernandes no século XIX no romance “Fretana”. E também como fez Zé Lins do Rego no Romance Meus Verdes Anos, sobre a infância dele”, lembrou Cavalcanti.
Já o romance “Monte-Mor”, conta a história da fundação da cidade de Rio Tinto, “uma vila operária dos Lundgren, com uma grande indústria têxtil, de forma romanceada”.
De acordo com o escritor, a biografia “Frei Tito Figueirôa” foi escrita em 2020 e conta a saga de um padre doutor.
“Agora tenho essas obras prontas para serem lançadas em breve, pois enveredei na literatura dos romances, contos, lendas e mitos. A produção está sendo grande, porque a memória e o pensamento não podem parar , mesmo em tempo de pandemia, com esta doença chamada Covid-19, tão grave quanto mortal”, destacou
O primeiro romance
‘A Preta Gertrudes”, seu primeiro romance, possui 386 páginas e leva o selo da Editora A União. O trabalho literário tem editoração do programador visual Martinho Sampaio; a capa é uma pintura do artista Flávio Tavares, trabalhada por Modesto Cavalcanti. A revisão do texto é do professor Ivan Costa. A apresentação e o prólogo são do crivo dos jornalistas José Nunes e Valter Nogueira, respectivamente.
Negra do Tabuleiro – A ‘Negra do Tabuleiro’, como era chamada, vendia frutas, verduras e o que mais lhe permitiam. Com cerca de 30 anos, Gertrudes Maria não quis ser vendida em praça pública e, para que isso não acontecesse, travou uma guerra judicial pela própria liberdade.
Ela teve que se opor a um embargo de penhora contra seu senhor, iniciado em 1828, que colocou em risco a sua liberdade parcial. Seu grande feito foi o de não ter se posicionado de forma passiva e de ter procurado de imediato o auxílio de advogados em sua defesa. Naquela época, não era comum às mulheres ou aos homens escravizados contratarem advogados ou serem representados por eles.
Gertrudes chegou a ser presa. Para conseguir a liberdade de volta, solicitou um novo responsável, o tenente Modesto Honorato Victor. Quatro meses depois, em abril de 1841, o mesmo credor entrou com uma ‘Ação em Juízo’ na tentativa de vender Gertrudes e os filhos dela em praça pública para receber a dívida, sendo estas as últimas informações registradas sobre o caso.
Na obra, o autor esmiuçou a história da personagem em 28 capítulos: da infância feliz de Gertrudes Maria à orfandade, passando pela menina escrava, seu relacionamento amoroso com o índio Kauê, entre outros tópicos marcantes. “Nesse livro, meu primeiro romance, o leitor vai encontrar uma história bem amena, com cerimônias religiosas, poesia e termos jurídicos em latim dos debates do processo”, disse o desembargador Marcos Cavalcanti.
Por Kubitschek Pinheiro