“A escola é agente imprescindível na mudança de paradigmas e na quebra de preconceitos ainda cristalizados na sociedade sobre a adoção”. A fala foi proferida pela psicoterapeuta Suzana Schiettini, na manhã desta quarta-feira (26), durante o Webinário ‘O papel da Escola no processo de Adoção’, realizado pela Vara da Infância e Juventude de Campina Grande. O evento debateu propostas pedagógicas para tratar o tema nas escolas e contou com a participação de juízes, gestores de escolas municipais e estaduais e profissionais atuantes nas instituições de ensino de diversas regiões do país, como pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e outros.

Em sua fala, a psicoterapeuta Suzana Schiettini, que coordena o Núcleo de Apoio ao Pós-Adoção (NAPA), em Recife, explicou que a maternidade e a paternidade passam antes de tudo pela atitude adotiva. “Gerar crianças não nos faz pais. Toda família precisa ser adotiva ou não é família. Precisamos parar de estigmatizar o termo adoção”, enfatizou. A palestrante defendeu que uma nova cultura sobre a adoção e seu conceito precisa ser construída e as crianças podem aprender muito cedo sobre o assunto, a partir de um olhar mais abrangente, estimulado pelas instituições de ensino.

Entre as estratégias pedagógicas para tratar sobre adoção nas escolas, Suzana ressaltou a importância de uma abordagem sobre o conceito de família, não mais entendida apenas pelos vínculos consanguíneos, mas, sobretudo, afetivos. “Há múltiplas formas de organizações familiares. Famílias recasadas, mononucleares, homoafetivas, adotivas e outras. Crianças que compreendem isso entenderão que cada ser tem a sua singularidade e todos devem ser aceitos e respeitados”.

Na sequência, a analista da Vara da Infância e Juventude de Campina Grande e pedagoga, Kesia Braga Fernandes, deu continuidade ao debate, reforçando que é fundamental um olhar mais dirigido pelas escolas sobre o tema. A pedagoga revelou, na ocasião, que, em pequisa realizada, mais de 94% dos participantes informou não trabalhar o tema em sala de aula. “Esse é um dado ruim, mas ficamos felizes em saber que este evento vai contribuir para que essa realidade mude”, disse.

“A instituição escolar é o veículo para as mudanças, que dependem dessas ações. As instituições de ensino devem ser parceiras da iniciativa, e não só do Judiciário, mas de todos os órgãos da rede. Assim, conseguiremos garantir o direito das crianças e dos adolescentes de uma forma mais completa”, asseverou a pedagoga.

Kesia Fernandes afirmou, ainda, que as escolas precisam estar atentas às diferenças e que os professores têm um papel relevante na construção dos valores. “Quando um discurso é carregado de preconceito, o efeito pode ser trágico, assim como, quando é voltado para construir valores em relação ao respeito e à diversidade, há uma repercussão positiva imensa. O professor entra como protagonista desse processo, pois pode ser um facilitador na construção dos valores”, explicou.

O evento também expôs vídeos, com depoimentos de pais adotivos e de gestores escolares, falando sobre a importância da escola no processo de acolhimento à criança que pertence a uma família adotiva, para que ela se sinta aceita e possa desenvolver laços afetivos fortes.

Ao encerrar o evento, o magistrado Perilo Lucena externou agradecimentos ao presidente do TJPB, Desembargador Saulo Henriques de Sá e Benevides, pelo apoio dado à realização do evento, e a todos que compareceram ao webinário. “Vejo muitos professores dizendo, aqui, que vão implementar ações em suas esferas de atuação e isso é muito gratificante”, declarou, acrescentando que o trabalho em rede é fundamental.

O juiz auxiliar da unidade, Hugo Gomes Zaher, também louvou as ações proativas realizadas pela Vara da Infância e Juventude de Campina Grande em torno da adoção, incluindo o webinário voltado ao aprofundamento da temática.

Além dos magistrados, compuseram a mesa e participaram do evento, a promotora Elaine Cristina Pereira Alencar, da 12ª Promotoria de Justiça da Criança e do Adolescente de Campina Grande; a coordenadora da Secretaria Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, Denise Avelino, a secretária adjunta de Educação de Campina Grande, Socorro Siqueira; a gerente regional de ensino da 3ª Gerência Regional de Educação, Socorro Cordão e a coordenadora da Seção de Assistência Psicossocial Cível da Comarca de Campina Grande, psicóloga Lavínia Vasconcelos.

Por Gabriela Parente/Gecom-TJPB

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