Três curtas-metragens e o primeiro longa-metragem de ficção na Paraíba bastaram para colocar Linduarte Noronha entre os maiores nomes do cinema nacional. Mais que isso: um pioneiro!

É ele um dos autores do longa ‘O salário da morte’ (1971). Também dirigiu os curtas ‘Cabo Branco’ (1955), ‘Aruanda’ e ‘O cajueiro nordestino’ (1962). O dia de hoje é marcado pelos oito anos da morte do cineasta.

Set de filmagens do longa ‘O salário da morte’

Pernambucano de nascimento, mas paraibano por escolha, Linduarte foi repórter, crítico de cinema, procurador do Estado e professor do Departamento de Comunicação da UFPB, onde se aposentou nos anos 1990.

Fui seu aluno. Colegas de graduação em outros Estados – quando desses encontros proporcionados por eventos estudantis – ficavam maravilhados ao saber que eu já havia recebido aulas do “diretor de Aruanda”, precursor do Cinema Novo.

Nem contava a eles que as aulas eram fracas para os padrões acadêmicos e pareciam não ter muito planejamento. Omitia que parte de minha turma mostrava certo desinteresse devido à falta de pragmatismo acadêmico de Linduarte.

Cena do curta ‘Aruanda’

Até porque as conversas em sala de aula eram ótimas! Linduarte não sabia dar aula, mas sabia tudo sobre cinema e – enquanto preparava seu fumo – conduzia conversas enriquecedoras a respeito da sétima arte.

“O fumo não prejudica a saúde. O que faz mal é o papelzinho do cigarro”, dizia ele, muito seriamente. Nós ríamos. E nos aproximávamos para ouvir suas histórias, por exemplo, sobre documentários, ditadura, cinema europeu e Embrafilme.

Mais que aprendizado acadêmico, as aulas de Linduarte nos municiava de amor pelo cinema. Cinema nacional. Cinema internacional. Cinema paraibano!!! Linduarte deixou sua marca (como cineasta e como professor!).

Não à toa, fiz um documentário como projeto de conclusão da graduação em Jornalismo. Minha banca foi formada por Derval Gólzio, Suelly Maux e, claro, Linduarte Noronha. Minha nota?!?! 9,8.

Derval me deu 10. Suelly, também. Linduarte, meu ídolo, deu 9,5. Naquela mesma manhã, após defesa no Nudoc, por acaso, encontrei com Linduarte no Centro de Convivência da UFPB. Não pude deixar de perguntar o motivo de não ter recebido 10…

“É que eu já havia participado de uma banca antes da sua e já havia dado 10. Não poderia dar dois 10 na mesma manhã”, disse isso muito calmamente, se despediu com simpatia e saiu andando. Eu fiquei bem quietinho e boquiaberto…

Enquanto observava seu caminhar, minha raiva se transformou em sorriso. Bobagem infantil a minha querer ser um aluno nota 10. Linduarte não me deu 10, mas me deu muito mais que isso… Viva Linduarte. Viva o cinema!

2 Comentários

  1. Sara Agra Medeiros Responder

    Que lindo, imaginei ele agora com suas explicações e seu velho fumo, saudades meu sogro, fostes um homem espetacular, mais o seu velho fumo lhe traiu!
    Salve Linduarte

    • José maria tavares de andrade Responder

      Linduarte,
      O grande mestre nasceu em Ferreios PE
      Lá ele , mereceria ser nome
      De rua ou praça.
      Que tal suscitar isto?
      Obrigado.
      José maria Andrade

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