Por Venuzia Máximo*
A saúde mental no ambiente de trabalho tem ganhado destaque nos últimos anos, refletindo preocupações globais e nacionais sobre o bem-estar dos trabalhadores. No Brasil, essa questão é particularmente relevante, considerando os desafios históricos e culturais que influenciam o cenário atual.
Dados recentes destacam a gravidade do problema. Uma pesquisa da Gallup revelou que 25% dos profissionais brasileiros relataram sentimentos diários de tristeza, colocando o país entre os quatro com maior incidência na América Latina. Além disso, 18% dos trabalhadores brasileiros sentem raiva diariamente.O mesmo estudo apontou que 46% dos profissionais no Brasil experimentam estresse diário, evidenciando a pressão enfrentada no ambiente laboral.
Historicamente, a saúde mental no trabalho no Brasil foi negligenciada, com pouca atenção às condições psicológicas dos trabalhadores. Culturalmente, há uma tendência de valorizar a resiliência e a capacidade de suportar adversidades, o que muitas vezes leva à subestimação do sofrimento psíquico. Além disso, o estigma associado aos transtornos mentais dificulta a busca por ajuda, perpetuando o ciclo de sofrimento.
Diversos fatores contribuem para o adoecimento mental no ambiente de trabalho:
Sobrecarga de Trabalho: exigências excessivas e prazos apertados aumentam os níveis de estresse;
Falta de Reconhecimento: a ausência de valorização e feedback positivo desmotiva os colaboradores;
Ambiente Hostil: assédio moral, discriminação e conflitos interpessoais deterioram a saúde mental;
Insegurança no Emprego: o medo de demissões ou mudanças organizacionais gera ansiedade;
Dificuldades Financeiras: problemas econômicos pessoais podem aumentar o estresse e a preocupação.
Para mitigar esses problemas, diversas estratégias podem ser adotadas:
Promoção de Ambientes Saudáveis: criar uma cultura organizacional que valorize o bem-estar e ofereça suporte psicológico;
Programas de Apoio: implementar iniciativas que incentivem a prática de atividades físicas, acompanhamento psicológico e, quando necessário, medicação;
Treinamento de Lideranças: capacitar gestores para identificar sinais de sofrimento e agir de forma empática;
Políticas de Flexibilidade: oferecer horários flexíveis e possibilidades de trabalho remoto para equilibrar vida pessoal e profissional;
Espaços de Escuta: disponibilizar canais confidenciais para que os colaboradores expressem suas preocupações.
Em 27 de agosto de 2024, o Ministério do Trabalho e Emprego atualizou a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) por meio da Portaria MTE 1.419, introduzindo a obrigatoriedade de identificar e gerenciar riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Essa atualização exige que, a partir de 26 de maio de 2025, as empresas brasileiras incluam a avaliação de riscos psicossociais em seus processos de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST).
Esses riscos incluem fatores como estresse, assédio e carga mental excessiva, que devem ser identificados e gerenciados pelos empregadores como parte das medidas de proteção à saúde dos trabalhadores.
Essa mudança representa um avanço significativo na proteção da saúde mental dos trabalhadores, exigindo que as empresas adotem medidas concretas para prevenir problemas de saúde mental, gerenciar a sobrecarga de trabalho e criar ambientes de trabalho saudáveis e livres de qualquer forma de assédio
A saúde mental no trabalho é uma questão complexa que exige atenção contínua. Compreender os números atuais, o contexto histórico-cultural e os fatores contribuintes é essencial para a implementação de estratégias eficazes. A atualização da NR-1 reforça a importância de ambientes de trabalho saudáveis e do suporte adequado, visando melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e aumentar a produtividade organizacional.
Referências
Saúde mental no centro das relações de trabalho
Atualização da NR-1 reforça a gestão da saúde mental no trabalho – FENAFAR
*Consultora de RH e psicóloga clínica com mais de 14 anos de experiência na área de gestão de pessoas. Há 3 anos atua na Máximo Consultoria, oferecendo soluções em RH estratégico, liderança e programas de saúde mental.
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