Em abril de 1980, o festival MPB 1980 reuniu amantes da música em disputas fantásticas e tão acaloradas quanto uma partida de futebol. O evento realizado pela TV Globo, com direção de Augusto César Vanucci, teve semifinais e finalíssima no Rio de Janeiro, colocando no palco grandes nomes como Oswaldo Montenegro, Sandra de Sá, Baby Consuelo, Joyce, Amelinha e Quinteto Violado. Cada um deles com suas torcidas organizadas.

Acompanhado de casa, integrei a torcida organizada de Amelinha (porque meu pai me disse que a canção que ela defendia era de um paraibano: Luiz Ramalho). Na verdade, minha simpatia maior era por Eduardo Dusek e sua cômica ‘Nostradamus’, mas o bairrismo besta falou mais alto e me danei a torcer por ‘Foi Deus que fez você’.

Eu ainda era um pirralho e – para mim – ficava entre engraçado e irritante perceber a euforia de quem torcia por ‘Agonia’, interpretada por Oswaldo Montenegro. Aquela canção de Mongol me parecia enfadonha e desinteressante. Me apeteciam mais o lirismo de Jessé e o regionalismo de Raimundo Sodré. Maaaasssss… seguia torcendo por Amelinha (embalado pelo tal bairrismo besta).

Oswaldo Montenegro no MPB 80

A história nos mostra que o MPB 80 premiou o talento de Oswaldo Montenegro e que Amelinha bateu na trave. Ainda teve ‘A massa’ (de Sodré) na terceira colocação, além de premiações de Melhor Arranjo para o Quinteto Violado (‘Rio Capibaribe’, de Toinho Alves e João de Jesus Loureiro) e Melhor Intérprete para Jessé (‘Porto Solidão’, de Zeca Bahia e Gincko).

Lembro que depois do festival, meus pais compraram uns compactos (discos de vinil com duas músicas) de Jessé, de Amelinha e ainda uma coletânea com algumas canções daquele festival, inclusive ‘A massa’ e ‘Nostradamus’. Canções que eu cantava durante o banho e com todos os virunduns possíveis.

Os anos se passaram e – na segunda metade daquela década – mudei de ideia com relação ao resultado do MPB 80. Meus hormônios adolescentes apaixonados me fizeram ver (e ouvir) que a ‘Agonia’ de Oswaldo Montenegro era mesmo melhor que a canção suave e cristã defendida por Amelinha. Hoje, também acho ‘A massa’ melhor que ‘Foi deus que fez você’. Só não acho ‘Nostradamus’ tão interessante quanto antes… Aquele bairrismo besta? Tenho mais não…

4 Comentários

  1. Minha mãe comprou esses discos também. Que bom rememorar o ambiente da época destes festivais, com você! Obrigada, Jamarri.

  2. Eita que boas lembranças. Minha irmã comprou o LP do festival. Embalada pelo povo da minha casa, torcia por “Agoniac e ‘A massa’

  3. Orlando Junior Responder

    Eita Jam…tbm torci nesse festival…mais minha torcida era por uma música simples, que nem na história ficou mais wue eu achsva linda: Choro Alegre interpretada por Elza Maria!
    “Eu te convido pra fazer um choro alegre e a tristeza que se abale e o diabo te carregue. A casa pode cair, o fogo pode queimar, a terra pide tremer mais eu não posso parar….
    Que recordação Jam…na volta da escola para casa eu e amigos paravamos na UFPB, que era nosso caminho, e faxiamos o nosso festival! Adorava tbm A música do Pepeu, muito embora nao entendesse nada! Odiei Agonia…mas hj acho ela linda….

  4. Que lindo seu texto.Eu assisti também o MPB 80, tinha 8 anos,mas me lembro bem daquele festival.Torci por Jessé,com minha amada “Porto Solidão”, uma preciosidade de nosso cancioneiro, q ficou eternizada na voz do maravilhoso Jessé, e até hoje penso q ela merecia ganhar o festival.MPB 80 é a minha infância.Detalhe: eu também me acabava no banheiro e no quintal da minha casa cantando “Porto Solidão”, q é uma das musicas mais dificeis de se cantar devido aos agudos, quase inatingíveis, de Jessé,mas eu me virava (rsrsrs).Parabéns por seu texto.

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