“Eu sou a preta que tu come e não assume. (…) Por acaso eu não sou uma mulhеr?”. Quando a cantora baiana Luedji Luna solta a sua voz – suave, canora e plena de sedução – ela é certeira no formato e no conteúdo. Sua presença marcante e seu talento estarão em uma live show nesta sexta-feira, dia 20, na TV Funesc.
Apresentação faz parte da programação do Novembro Negro, em uma parceria entre a Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana. Começa às 20h30, no canal da Funesc no YouTube.
O trechinho de uma letra citada na abertura desse texto está na canção ‘Ain’t I a woman’, uma das faixas de ‘Bom mesmo é estar debaixo d’água’ (disco lançado por Luedji este ano). Um CD que destaca os amores e desamores de mulheres negras (musificadas de ponta a ponta).
Importante lembrar que ‘Ain’t I a woman?’ tem link com o discurso feito pela ex-escravizada Sojourner Truth, proferido na Convenção de Mulheres em Akron, Ohio, em 1851. Pouco depois de conquistar a liberdade em 1827, Truth tornou-se uma conhecida oradora abolicionista.
Um discurso para lembrar que mulheres negras têm direitos e que não podem ser colocadas abaixo das mulheres brancas nem de homens (negros ou brancos…). Luedji Luna pletora de suavidade, mas não foge da luta. Uma boníssima cantora. Uma grande mulher.
‘Bom mesmo é estar debaixo d’água’ – gravado em Salvador, São Paulo e Quênia – deixa muito clara a grandeza de Luedji como cantora e como mulher. Escute abaixo a faixa ‘Ain’t I a woman’ e não deixe de acompanhar a live show. Vale muito a pena!
O disco reúne algumas inéditas, uma canção de Nina Simone e um poema de Conceição Evaristo – recitado pela própria escritora). Um CD menos percussivo que o anterior – ‘Um corpo no mundo’ – mas não menos atraente. Mais jazzístico e emepebístico.
Luedji Luna fez um disco impiedosamente lindo, para ser ouvido várias e várias vezes. Um trabalho que reflete a maturidade da artista e seu grau de consciência como mulher negra. Ouça sem parar!