Nathan Cirino e Aluísio Guimarães são os diretores de um curta-metragem que começa a ser rodado na próxima segunda-feira, dia 8, em Campina Grande, contando uma passagem inusitada na trajetória de Ronaldo Cunha Lima.

‘Habeas pinho’ tem Lucas Veloso (foto acima) no papel do jovem Ronaldo Cunha Lima. Elenco conta ainda com nomes como Mayana Neiva e Juzé. Equipe do filme se reunirá segunda-feira à tarde, no Garden Hotel, em Campina Grande. Produção é de Gal Cunha Lima e filme sai pela Lei Rouanet.

Na década de 1960, atuando como advogado, Ronaldo Cunha Lima redigiu um Habeas corpus todo rimado e enviou para o juiz. Era o ‘Habeas pinho’ solicitando a soltura de um violão de um seresteiro. Abaixo, a peça redigida pelo advogado Senador Ronaldo Cunha Lima:

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca:

O instrumento do crime que se arrola

Neste processo de contravenção

Não é faca, revólver nem pistola.

É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade

Não matou nem feriu um cidadão.

Feriu, sim, a sensibilidade

De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,

Instrumento de amor e de saudade.

Ao crime ele nunca se mistura.

Inexiste entre eles afinidade.

O violão é próprio dos cantores,

Dos menestréis de alma enternecida

Que cantam as mágoas e que povoam a vida

Sufocando suas próprias dores.

O violão é música e é canção,

É sentimento de vida e alegria,

É pureza e néctar que extasia,

É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório,

Porém seu destino se perpétua.

Ele nasceu para cantar na rua

E não para ser arquivo de Cartório.

Mande soltá-lo pelo Amor da noite

Que se sente vazia em suas horas,

Para que volte a sentir o terno açoite

De suas cordas leves e sonoras.

Libere o violão, Dr. Juiz,

Em nome da Justiça e do Direito.

É crime, porventura, o infeliz,

cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, e afinal, será pecado,

Será delito de tão vis horrores,

perambular na rua um desgraçado

derramando na rua as suas dôres?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,

Na certeza do seu acolhimento.

Juntando esta petição aos autos nós pedimos

e pedimos também DEFERIMENTO.

Ronaldo Cunha Lima, advogado.

O juiz Arthur Moura sem perder o ponto deu a sentença no mesmo tom:

“Para que eu não carregue

Muito remorso no coração,

Determino que seja entregue,

Ao seu dono, o malfadado violão!“

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