No final da década de 1970, surgia na cidade de Cabedelo o grupo Teatro Experimental de Cabedelo (TECA). Dezenas de integrantes, inclusive a premiada atriz Madalena Accioly, dirigidos pelo saudoso Altimar Pimentel (jornalista, historiador, teatrólogo e folclorista). Esse grupo foi protagonista na luta pela construção de um teatro (construído na gestão de Wilson Braga, que governou a Paraíba entre 1983 e 1986).

Disputas políticas (e jurídicas) fizeram com que o teatro Santa Catarina fosse abandonado. Ficou sucateado por anos e anos. Na gestão do então governador Ricardo Coutinho uma reforma foi iniciada. E a entrega dessa reforma será feita agora na gestão do governador João Azevedo, através da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). Solenidade de reabertura terá programação sábado e domingo, dias 19 e 20, com apresentação do espetáculo ‘Alegria de náufragos’, a partir das 19h (com entrada gratuita).

Abaixo, crítica sobre o espetáculo ‘Alegria de náufragos’:

‘Alegria de náufragos – Uma história nada enfadonha’

No santo espaço cênico, Thardelly Lima, Cely Farias e Rafael Guedes formam uma ‘divertidíssima trindade’ no espetáculo ‘Alegria de náufragos’, do grupo paraibano Ser Tão Teatro. O peso trágico da obra ‘Uma história enfadonha’ (1888), do russo Anton Tchekhov (na qual a peça é baseada) é diluído em momentos de extrema e refinada graça.

A história original é transformada em uma tragicomédia digna do teatro de rua. O espetáculo é dinâmico e pletora de improvisações laboratoriais. E ‘Alegria de náufragos’ encontra em seu elenco o trunfo maior. Há unidade. Há leveza. Há qualificação profissional. E todos interpretam todos os papéis (em um revezamento semiótico de peças do figurino).

Na história do velho professor Nicolai Stiepánovitch (já em fim de carreira), Thardelly Lima, Cely Farias e Rafael Guedes costuram uma narrativa de dor (entre convenções sociais, vícios do sistema e sonhos frustrados) e humor (com bricolagens de outros espetáculos, como ‘Quincas’ e ‘Vau da Sarapalha’).

Thardelly Lima (que deve ser engraçado até chorando) não ofusca o talento de Cely Farias nem de Rafael Guedes. Entre mungangas cajazeiradas e caretas à la Jim Carrey, ele soma. Cely está lindamente convincente. Rafael acompanha os parceiros e também é responsável pelo excelente rendimento do espetáculo.

 ‘Alegria de náufragos’ nos faz refletir sobre como lidamos com sonhos, desejos e necessidades, diante das cobranças, armadilhas e imposições de uma sociedade mesquinha, superficial e indiferente à felicidade tão própria das idiossincrasias. Vale a pena ser visto e revisto. Em tempo: Cátia Celiane é a melhor personagem da peça…

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