Pelo menos 60% das mulheres que cumprem pena na Penitenciária Feminina Júlia Maranhão, na Capital paraibana, afirmaram já ter sofrido algum tipo de violência doméstica. O percentual foi apresentado durante o encerramento do primeiro ano do Projeto Sempre Viva, ocorrido na manhã desta terça-feira (3), na unidade prisional. A iniciativa é realizada em parceria entre o Tribunal de Justiça da Paraíba, por meio da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência, o Curso de Psicologia do Unipê e a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap).

Para se chegar ao quantitativo de apenadas que sofreram violência doméstica, a equipe de estagiárias de Psicologia aplicou um questionário a 104 apenadas da instituição. Entretanto, o projeto foi realizado junto a 30 reeducandas, inicialmente, e, do apoio psicológico com escuta individual, participaram 12 mulheres. O encerramento do primeiro ano dos trabalhos contou com as estagiárias do curso, as reeducandas que participaram das atividades, a juíza Graziela Queiroga, a professora Leda Maia e a deputada estadual Camila Toscano, que foi conhecer a iniciativa.

Juíza Graziela Queiroga
De acordo com a coordenadora da Mulher em Situação de Violência do TJPB, o questionário foi aplicado com o objetivo de descobrir, quantitativamente, as mulheres vítimas de violência doméstica encarceradas na unidade prisional e, ao mesmo tempo, se esta violência estaria relacionada, de alguma forma, ao motivo da prisão. “Esta era uma inquietação minha e da professora Leda Maia, que coordenou o projeto. Com a iniciativa, estamos com a sensação do dever cumprido e queremos aprimorar, ainda mais, no próximo ano. O desejo é que as mulheres, ao terem a liberdade física devolvida, possam sair amparadas pela rede de atendimento e compreendam o que é a violência contra a mulher para não permitir que ocorra mais na vida delas”, salientou a juíza Graziela Queiroga.

A professora Leda Maia, que coordena o Projeto Sempre Viva, explicou que o objetivo é acolher as mulheres e fornecer um serviço terapêutico. Para isso, primeiro é realizado um trabalho em grupo, no qual são trabalhadas questões como autoestima, solidariedade, esperança e direitos das apenadas. Em seguida, são selecionadas as participantes com maior necessidade de atendimento individualizado. Cada escuta dura em média 30 minutos, sendo feitas uma vez por semana. “O grande resultado é a melhora delas e a esperança de ter a vida restaurada. O trabalho tem sido aceito tanto pelas mulheres encarceradas quanto pela penitenciária e percebemos que elas se sentem acolhidas. Uma das participantes, inclusive, completou o tempo da pena e teve dificuldade para sair porque queria continuar participando”, destacou.

Iniciativa aprovada – A deputada estadual Camila Toscano, ao conhecer as atividades desenvolvidas ao longo do ano junto às reeducandas, afirmou que se surpreendeu com a iniciativa. “Eu me encantei com o trabalho feito pela juíza Graziela e pela professora Leda. Essa parceria, certamente, está mudando a vida de mulheres que estão privadas de liberdade momentaneamente e é importante no sentido de elas entenderem que o Poder Público não as abandonou. Elas não estão sozinhas e existe uma rede de apoio que acredita nelas”, afirmou.

Cinthya Almeida
A diretora da Penitenciária Feminina Júlia Maranhão, Cinthya Almeida, disse que o projeto foi bem recebido entre as apenadas. “Notamos a necessidade de um trabalho voltado a essa área de violência doméstica e as reeducandas pedem para continuar. Outras, que chegam e tomam conhecimento do projeto, pedem para participar. Então, as expectativas são as melhores possíveis e espero que a iniciativa possa ser ampliada”, enfatizou.

Acolhimento – Uma apenada, que está na instituição há dois anos e participa do projeto, afirmou se sentir bem com o apoio psicológico. “Eu me sinto muito bem com as estagiárias de psicologia. Elas me ouvem e eu digo o que sinto e penso. Estou gostando e espero que tenham outras oportunidades como esta. Quando estamos presas, ficamos com a mente perturbada, por isso, esse projeto ajuda bastante”, frisou.

Por sua vez, outra reeducanda, vítima de violência doméstica, encontrou na unidade prisional a “liberdade”. “Se eu ainda estivesse em casa, depois de tantas ameaças que sofri, já estaria morta. Meu ex-companheiro ameaçava me matar, matar meus pais e meus filhos. Não me deixava fazer nada. Eu era uma mulher guerreira e trabalhadora e, com o projeto, estou redescobrindo isso”, afirmou.

Por Celina Modesto / Gecom-TJPB

 

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