No ano de 2000, eu – então repórter de Cultura do jornal Correio da Paraíba – fui cobrir o Festival da Música Brasileira da Rede Globo, no Credicard Hall, em São Paulo. Quatro eliminatórias e uma finalíssima, em cinco sábados de evento. Um evento sem a mesma dimensão dos grandes festivais, mas com participantes de nível indiscutível, como Mônica Salmaso.

A banda mineira Tianastácia (‘Morte no Escadão’, de José Carlos Guerreiro) ficou em terceiro. Ná Ozzetti (‘Show’, de Luiz Tatit e Fábio Tagliaferri), em segundo. O azarão Ricardo Soares venceu (e foi vaiado) com ‘Tudo bem, meu bem’. Vencedor no voto popular foi Lula Barbosa (‘Brincos’, de Amauri Falabella).

No intervalo entre o fim das apresentações dos candidatos e o anúncio do resultado pelos jurados rolaram pockets com diversos nomes da MPB e da cena pop-rock, como Jorge Ben Jor, Jota Quest, Nana Caymmi, Skank, Cidade Negra e Gabriel, O Pensador.

No dia seguinte a uma das eliminatórias (uma noite que também teve um papo ótimo com Wally Salomão, que era um dos jurados), acordei cansado e com fome. Pois bem… No hotel onde fiquei também estava hospedado Ney Matogrosso. Nos encontramos no elevador. Ambos com destino ao restaurante para o café da manhã.

Pense Num susto! Um ‘eita píula’ tamanho diante daquele ‘baixinho gigante’. Balbuciei um ‘bom dia meia boca’ sem olhar nos olhos dele, mas mantendo a visão periférica. Ele respondeu com um ‘bom dia’ e um gesto de cabeça. E ficou me olhando. Me encarando por eternos 10 segundos. Deve ter me achado estranho…

Até que o elevador deu um tranco. Parou por uns cinco segundos. Fiquei ‘trancado’ com Ney. Eu já estava sem respirar desde que ele entrara no elevador. Ele, calmíssimo, olhou para o painel do elevador e depois para a porta. O elevador fez um barulho estranho e continuou por mais dois ou três andares. A porta abriu. Minha vergonha permaneceu dentro…

Fiz um gesto com a mão apontando para que ele descesse primeiro. Ele agradeceu com um polido gesto de cabeça e saiu do elevador. Parou no meio do caminho e olhou para trás, me encarando novamente. Eu com cara de leso não consegui dizer nada. Paralisado diante de um ídolo… Naquela manhã nem consegui tomar café…

Neste domingo, dia 1, Ney Matogrosso festeja 80 anos de vida. Um dos maiores nomes de nossa música, com interpretações fabulosas de ‘Poema’, ‘Sangue latino’ e ‘Tanto Amar”‘, além de ‘Homem com H’, dos paraibanos Antônio Barros e Cecéu, conseguiu me fazer perder a voz…

E lembro dessa história neste domingo porque – pensando bem – diante de Ney Matogrosso (androginia, independência e libertação para além dos Secos & Molhados), melhor que falar é escutar. Bote o LP na vitrola ou acesse sua plataforma de streaming preferida e festeje o dia de hoje ao som de um artista que não envelheceu…

 

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