O mundo é pequeno pra caramba! E nele cabe uma casa grande e uma senzala. Não faz nem 90 anos que Gilberto Freyre escreveu seu livro mais famoso: ‘Casa-Grande & Senzala’. Obra que escrita em 1933 e que – mea culpa – só fui ler na década de 1990 (por ‘exigência’ do saudoso jornalista Roelof Sá, então meu editor no jornal O Norte e fã do ‘mestre de Apipucos’).

Ainda me impressiono com a manutenção dessa estrutura de ‘Casa-grande & senzala’ em nossos pensamentos e comportamentos. Algo tão estrutural que parece ser ‘normal’… A abolição não tirou da sociedade o doce desejo de opressão. Nossas madames ainda se orgulham de seus escravos…

Estou em algumas dezenas de grupos de zap. Em um desses grupos, ‘Madame Lulu’ fez uma postagem cheia de ‘orgulho e admiração’ oferecendo sua ‘mucama’ para outras madames. Disse Madame Lulu: “Pessoal, tenho boas recomendações da minha faxineira. Ela é limpa e super de confiança, e trabalha com um precinho bom. Vou deixar aqui o contato dela”.

‘Madame Lulu’ é tão representativa da Casa Grande! Fiquei imaginando se a madame recomendaria um advogado, um jornalista, um médico, um engenheiro, um contador, um cabeleireiro, um personal trainer ou qualquer outro profissional dessa forma… Um profissional “limpo, que não rouba sua casa e que cobra um valor baixo”. Imaginei um quadro de Debret… Madame Lulu está em um quadro de Debret e não é negra…

Madame Lulu pode até não saber, mas tem um olhar de senhora de engenho diante de sua escrava. Madame Lulu se acha muito bondosa. Ela até recomenda sua mucama para os seus pares ‘do mesmo porte’. Um grande pensador já escreveu sobre Madame Lulu. Foi Gilberto Freyre, na década de 1930…

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