Com direção do brasileiro Fernando Meirelles (o mesmo de ‘Cidade de Deus’), o longa-metragem ‘Dois papas’ é um filme com diálogos sensacionais entre os papas Bento XVI e Francisco I. O papa alemão é interpretado por Anthony Hopkins. Já o argentino, por Jonathan Pryce. Não à toa, ambos são indicados na disputa ao Oscar (nas categorias Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Ator). Também tem indicação a Melhor Roteiro Adaptado (Anthony McCarten).
Em uma das cenas de flashback, o ainda padre Jorge Bergoglio (interpretado na fase mais jovem por Juan Minujin) mostra alinhamento com a ditadura militar argentina, sendo responsável pela prisão e morte de outros religiosos e amigos. Em uma biblioteca jesuíta, Bergoglio entrega “livros subversivos” aos militares. Livros que estariam sendo lidos por “religiosos subversivos” preocupados com o bem-estar social e com os mais pobres.
Entre os livros está ‘Pedagogia do oprimido’, de Paulo Freire. A obra foi escrita em 1968, durante a ditadura militar no Brasil. Ainda hoje, é uma das obras mais citadas em pesquisas acadêmicas no mundo inteiro. Ainda assim, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro costumam execrar a obra.
A cena de ‘Dois papas’ também mostra o livro ‘Igreja e desenvolvimento’, apontando como autor Dom Hélder Câmara, bispo que tornou-se referencial de luta contra a ditadura.
O bispo brasileiro – assim como o papa argentino – teve alinhamento com movimentos fascistas, tendo sido articulador integralista na década de 1930. Mas, mudou seu alinhamento político após o Golpe Militar de 1964. Exatamente por isso, apoiadores de Bolsonaro acham Dom Hélder comunista!
Outro brasileiro que é mencionado no filme é Dom Cláudio Hummes, aquele que já foi chamado de “amigo dos sindicalistas”. Seria ele a aconselhar Francisco – quando da cerimônia de anúncio do novo papa – a não esquecer dos pobres.
Quem também aparece no filme é a ex-presidenta Dilma Rousseff, em duas cenas a respeito da final da Copa do Mundo de 2014, quando Alemanha e Argentina disputaram o título. Deu Alemanha (naquele ano do 7 a 1…)
O filme de Fernando Meirelles é um debate agradável sobre a igreja conservadora e a igreja progressista. Vale muito assistir, mas pode gerar um certo incômodo se você for um conservador de extrema direita e – além de conservador – apoiador do fascismo…
2 Comentários
Muito bom seu comentário sobre o filme.
Grato, Carol. 🙂